quarta-feira, 9 de março de 2011

O dito e o não dito




Dizer é muito fácil
Não dizer, melhor ainda
Mas o mais difícil é esconder
O que não se quer dizer

O dito mente, engana, é feroz
Por entre as palavras se perde
Engasga com aquele tom atroz

O dito muitas vezes tenta agradar
Quando a verdadeira intenção
É sem dúvida alguma afastar

As palavras tornam-se inúteis
Quando a verdade tenta se expressar
Com muitos ou poucos vocábulos
Às vezes mesmo, o melhor é calar

O não dito é transparente, está ali
Em todas as partes
Não se esconde de ti
A boca fala, mas os olhos escorregam
As palavras calam, mas as lágrimas nos entregam

O não dito está aos berros
Quando o nervosismo bate a porta
Quando a ansiedade encosta
Quando as mãos tremem
Quando o corpo geme
E quando o coração é teu leme
No rio da verdade, a tua alma

A mentira não passa de uma máscara
Com sucesso, impossível de se usar
Você engana os ouvidos de alguém
Mas a verdade irá mais além
Uma vez dito o que não se deve
O não dito vem, pois se atreve
E desvela o tropeço escondido
Daquele segredo contido

Enquanto não soam as palavras
Teu corpo se perde na maresia
Das ondas que jorram de dentro
As mãos gemem por tocar
Os olhos clamam por olhar
Os ouvidos tentam escutar
O que não se pode
O que não se deve
O que não se pode falar...

Bruniele Souza
11/02/2010

Um comentário:

  1. Eu queria ter um pouco da força de quem cala na hora que é pra calar, ou da sabedoria de quem mede as palavras antes de dizê-las.

    Eu falo tudo num impulso só... Às vezes é bom, pois digo o que sinto e que outras pessoas não teriam coragem de dizer, outras vezes é ruim porque percebo que não devia ter dito aquilo, não de forma tão rude.

    Talvez um dia eu aprenda.

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